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Bactérias duras de matar

  • Foto do escritor: Walter Labonia Filho
    Walter Labonia Filho
  • 17 de jul.
  • 3 min de leitura

Todos os seres vivos lutam para sobreviver como espécie frente a um sem-número de adversidades. Para as bactérias, nós, humanos, somos os inimigos mais implacáveis por dispormos de armas, na maioria das vezes mortíferas para elas, os antibióticos.


Em 1928, o médico escocês, Sir Alexander Fleming, estudioso obsessivo de bactérias, cultivava uma delas, do gênero Staphylococcus, numa placa de gelatina enriquecida com sangue de galinha, um dos pratos preferidos daquelas minúsculas formas de vida. No final de tarde de uma sexta-feira, deixou suas bactérias se multiplicando no meio de cultura, foi pescar e passar o fim de semana com a família e, o que viu na segunda-feira, quando examinou seu experimento, foi uma obra do acaso que resultou numa das maiores descobertas da medicina do século XX e lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1945: ele percebeu que algumas colônias de Staphylococcus não cresciam ao redor de um fungo, o Penicillium notatum, que acidentalmente caíra sobre a placa de cultura, o que o levou a concluir que aquele mofo produzia uma substância capaz de impedir a proliferação bacteriana. E a chamou de PENICILINA. A fantástica descoberta, se por um lado trouxe a cura para muitos flagelos fatais como a difteria, a sífilis, algumas formas de meningite, infecções uterinas pós-parto, entre outras, por outro lado mostrou que nem todas as bactérias são afetadas pela penicilina e, mais preocupante, que bactérias antes vulneráveis a ela tornavam-se resistentes à nova descoberta. No decorrer do século passado, os cientistas classificaram a resistência bacteriana em duas categorias: a intrínseca e a adquirida. A primeira diz respeito às bactérias que são resistentes desde que foram geradas e a segunda ocorre quando micróbios mutantes são resistentes ou, o que é muito significativo, eles trocam genes de resistência com outras bactérias da mesma espécie ou, pasmem, de outras espécies.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que cerca de 700.000 pessoas morrem anualmente por conta de infecções provocadas por bactérias multirresistentes à ação dos antibióticos. E por que isso acontece? Um exemplo: você se feriu com um alicate de unha ao aparar a cutícula e formou-se um pequeno abscesso no dedo. No armário do banheiro havia uma caixa de um antibiótico aberta, com poucos comprimidos que você tomou por dois dias, e houve boa melhora. Para não gastar mais, já que não estava mais doendo, você deixou pra lá e não tomou mais nada. Três dias depois, o abscesso voltou furioso e você procurou um médico que receitou um antibiótico similar ao que você havia tomado. Não adiantou, o médico precisou receitar um antibiótico diferente, mais caro. O que aconteceu? Quando você tomou por dois dias o primeiro remédio, a maioria das bactérias do seu abscesso era sensível a ele e ocorreu melhora mas, como o tempo de tratamento foi curto, bactérias mutantes, resistentes ao medicamento, ficaram livres e soltas para multiplicarem-se. Uma outra situação que favorece a resistência bacteriana aos antibióticos é o uso indiscriminado desses remédios, desnecessariamente.


Assim, antibióticos não são eficazes contra vírus e, se você estiver resfriado e tomar um antibiótico, além de nada adiantar pode haver sempre a possibilidade de efeitos colaterais do medicamento.Nesse mundo de violência em que vivemos — eu mesmo e minha esposa já fomos assaltados algumas vezes à mão armada — chego a pensar em fazer um curso de tiro e comprar uma arma para me defender. Nunca levei adiante essa ideia porque imagino que, se eu atirar, receberei balaços de volta. Coisa semelhante se passa com o uso de antibióticos nas mãos de quem não está apto a usá-los: o feitiço pode virar contra o feiticeiro.


Consulte sempre um médico se a doença estiver mais forte do que as armas à sua disposição.

 
 
 

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